Este artigo foi transferido por hardware próprio da edição escrita do jornal "postal do Algarve", edição papel, de 19/07/2007
Ria vai ser "cemitério de bivalves
se não for desassoreada
A maré é o patrão, é certinho, chega aquela hora e temos de sair". Cinco da madrugada na doca de Faro. O motor do Nera aquece para mais um dia de marisqueiro e o proprietário do barco acende um cigarro e revela a sua preocupação com a mortandade dos bivalves na Ria Formosa. "Se a barrinha (zona onde a ria se une ao mar) estivesse desassoreada, havia mais oxigenação e fito plâncton para alimentar os animais marinhos e não havia tanta mortandade dos bivalves", sustenta o dono do barco Álvaro Ribeiro, mariscador, 38 anos, enquanto avista no seu viveiro ostras, berbigão e amêijoa morta. As culpas pela mortandade dos bivalves da Ria Formosa são atiradas para os responsáveis do Parque Natural da Ria Formosa que não fazem os devidos desassoreamentos.
Os mariscadores e viveiristas da Ria Formosa, de Faro, passando por Olhão, Tavira até Vila Real de Santo António, não têm dúvidas de que se os canais de navegação fossem limpos de areias, calhaus e outros detritos, toda a reserva natural estaria melhor preservada e não se transformaria num cemitério.
Os químicos utilizados nos campos de golfe que chegam à Ria Formosa com a água das chuvas e as descargas das estações de tratamento em determinados momentos do
ano feitas pelo Aeroporto de Faro são outras das causas da morte dos bivalves, acusa o viveirista algarvio. Ao leme do Nera, Álvaro Ribeiro navega pela Regueira da Praça, passa pela Ilha dos Tesos e avança pelo Estreito do Ramalhete com o cigarro ao canto da boca. "Eles [Estado] não se preocupam com o sapal, eles estão preocupados é com os passarinhos", declara, como se estivesse num púlpito, referindo que se realmente quisessem proteger a Ria Formosa já tinham efectuado "dragagens nos sítios certos". "De que serve ter um coração (ria) se a maior parte da artérias (canais) estão entupidas! Isto vai morrer tudo", comenta o mariscador, levantando o motor da embarcação para que não toque no fundo da ria.
Sob o risco de o parque natural se transformar num cemitério com a acumulação de areias nos canais da ria, os viveiristas algarvios, pedem aos responsáveis do parque uma urgente intervenção naquela área protegida.
"As águas da ria estão paradas e a oxigenação não está a ser feita, provocando mortandade dos bivalves", explica, por seu turno, o mariscador Vítor Lourenço e antigo presidente da Associação de Viveiristas e Mariscadores, a Vivmar.
Tal como um campo agrícola precisa de manutenção para dar frutos, também os
terrenos da Ria Formosa precisam de cuidados e o desassoreamento é essencial, caso contrário morre, observa o mariscador.
Os mariscadores e viveiristas estão também preocupados com o fundamentalísmo do Plano de Ordenamento para a Ria Formosa que proíbe a captação total de bivalves na área marinha da Ilha da Barreta, sapais dos Cações e dos Gemidos e entre a Ilha da Armona e da Fuzeta. O Plano de Ordenamento esteve em fase de discussão pública até 06 de Junho e o parecer técnico deverá seguir para Conselho de Ministros para aprovação nos próximos três meses.
O documento proíbe a captura de bivalves em zonas privilegiadas, denominadas de Zona de Protecção Total, e os mariscadores temem pelos seus empregos e classificam o plano de "assombroso", "violento" e "catastrófico" para as populações que vivem na ria e dos animais marinhos. O presidente da Câmara de Faro já veio a público dizer que vai contestar até ao "limite" das suas forças a aprovação do plano na sua versão actual, que considera inaceitável.
A Lusa tentou ouvir a direcção do Parque Natural da Ria Formosa mas tal não foi possível.
segunda-feira, 1 de janeiro de 2007
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